O colorido, o fofo e as bonecas eram a alma das meninas. Os jogos, as lutas e os botões de vídeo game, a alma dos meninos. Nessa época a brincadeira era o único compromisso e não cumpri-la era motivo de choro e raiva.
Eu não me vejo mais fazendo o que fazia, infelizmente. Pular nos quadradinhos de giz no chão, com o estranho nome de amarelinha, que até hoje não entendo o porquê, era diversão certa, principalmente em dias de chuva. Aliás, enxergar uma amarelinha num piso quadriculado e achar que chegar ao céu é algo tão valioso quanto uma medalha de ouro são coisas que só um ser puro faz.
Andava de bicicleta sem pensar em nada, pelo simples prazer de sentir o vento no rosto. E as bonecas? Ah... Essas eram a minha projeção de futuro, com seus divórcios – vejam como eu já era otimista – e suas casas luxuosas provenientes de uma vida bem sucedida onde, ironicamente, trabalho nem existia.
As brincadeiras não são as únicas coisas que marcam a infância. É bom pensar também em como pensávamos quando éramos menores que o mundo. Escutar certas coisas e entender só da melhor forma, enxergar o nu e pensar em um bebê, não ver malícia em alguém com roupas curtas e passos inclinados, não entender o significado de tantas palavras apossadas pelo sexual...
Então me pergunto até que ponto ser adulto é algo positivo. Até que ponto saber de tudo, ter noção do bom e ruim, limitar-se para o bem do convívio, é algo bom de verdade?
Não acho que a gente tenha perdido a vontade de brincar. Acho que perdemos a capacidade de fazer as coisas sem pensar que alguém pode estar olhando.
Isso é ser maduro? Se for, por favor, alguém me empresta um giz?